
Há anos que estuda as claques de futebol e ontem, quando estava a ouvir as notícias na televisão sobre os confrontos entre adeptos de futebol, este fim-de-semana, em Lisboa, teve uma primeira reacção: "Não vamos ficar por aqui". Daniel Seabra, antropólogo, professor da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, é doutorando do Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa. E teme que Portugal esteja a assistir a uma mudança que pode ser perigosa: "O estilo casual está a ganhar força".
Salomé Marivoet, socióloga e investigadora na área da violência no desporto, não vê os confrontos da madrugada de anteontem como uma manifestação do estilo casual, embora reconheça que ele existe em Portugal. Só que ainda não tem muita visibilidade, "porque não há adversários à altura", diz. "Mas há indícios que apontam para um agravamento."
O estilo casual, diz o antropólogo, nasceu nos anos 1990, na Inglaterra, numa altura em que as autoridades apertavam o controlo aos hooligans. "As pessoas começaram a ir aos estádios sem cachecóis, nos seus próprios carros, e causavam incidentes nas imediações." Desta forma, vestidos como um qualquer adepto de futebol sem nenhuma ligação a um grupo organizado, era mais fácil escapar ao controlo policial.
Em Portugal - "onde temos hooligans nas claques, mas não podemos dizer que haja um problema de hooliganismo" -, tem predominado o modelo dos movimentos ultra, continua. A grande diferença entre os hooligans e os ultras é que os primeiros "têm como objectivo, muitas vezes, a confrontação com adeptos adversários - a violência é premeditada, planeada". Enquanto no movimento ultra a violência surge espontaneamente, como um "efeito perverso" da aglomeração de adeptos. Já os casual, diz Salomé Marivoet, têm "um gosto especial pela confrontação e pela luta homem a homem".
A lei portuguesa obriga ao registo das claques. E estas passaram a ter que fornecer os elementos de identificação dos elementos que as integram (como o nome, a morada, a fotografia). "Interrogo-me sobre a fiabilidade dessas bases de dados", diz Seabra. "Os elementos que se portam mal estão lá?" O investigador duvida. E acha que a lei "está a empurrar para o estilo casual" - que passa mais despercebido - alguns dos membros das claques. Os mais problemáticos.
Os confrontos violentos dentro dos estádios tenderão a diminuir, continua. O problema será cada vez mais o que se passa nas imediações. E porque esta violência reproduz, por vezes, "um quotidiano de alguma delinquência urbana", nota que é preciso actuar no que a gera. É preciso melhorar os sistemas de policiamento, mas também a educação cívica e desportiva nas escolas, exemplifica. com Hugo Daniel Sousa
Janeiro de 2008 O jogo Vitória de Guimarães-Benfica é antecedido de confrontos perto do estádio do Vitória. Há quatro feridos; um homem é esfaqueado no tórax.
Abril de 2007 Acontece no Benfica-FC Porto: dois adeptos "encarnados" são detidos por agressão e ferimentos a agentes da polícia nas imediações do estádio.
Setembro de 2005 Perto do Estádio de Alvalade, junto à estação de metro de Telheiras, uma rixa entre adeptos do Sporting e do Benfica provoca dois feridos.
fonte: publico/ ultras portugal